Quem é este vulto da antiguidade que se encontra na encruzilhada da história? Ele é um grande mestre? Um revolucionário? Um profeta? Ou ele é, de fato, o filho divino de um pai divino? O salvador literal do mundo? Ao tentar responder a essas perguntas, vários estudiosos descartam a parte divina e a separam do Jesus da história – o mortal – do Jesus da fé, o Filho de Deus. Atualmente, os estudiosos Santos dos Últimos Dias tentam combinar história e fé, erudição e revelação moderna a fim de obter uma compreensão mais completa sobre quem Jesus foi e quem é.
Quando o seu Mestre ascendeu ao céu, os apóstolos receberam garantias angélicas de que Ele retornaria em glória. A promessa do retorno triunfal de Jesus Cristo repercutiu em todo o mundo cristão primitivo e inspirou um compositor de hinos a declarar: “Dirija-te a mim, Senhor e Amigo; Revele a mim, filho do Bem Amado, a época da segunda vinda, quando aparecerás no fim dos tempos” (Hino a Segunda Vinda de Jesus). Apesar de algumas pessoas contestarem a realidade de uma segunda vinda literal, os estudiosos SUD descobriram na revelação antiga e moderna a confirmação do retorno glorioso e do estabelecimento do Seu reino tanto na terra como no céu.
KENT BROWN: O Monte das Oliveiras. Que local significativo nas histórias bíblicas! Tantos eventos importantes ocorreram neste local. Elevando-se acima do lado leste de Jerusalém, foi o local de vários eventos históricos importantes.
ANDREW SKINNER: O Rei Davi dirigiu-se para este monte, quando em fuga de seu filho rebelde: Absalão.
KENT BROWN: Sim, e foi daqui que o profeta Zacarias proclamou o Messias.
ANDREW SKINNER: Com certeza o Novo Testamento narra que este monte tornou-se um refúgio e um local de instrução para Jesus e seus discípulos.
KENT BROWN: Jesus ensinou a parábola das virgens neste local e, acima daqui, olhou para a cidade e chorou.
ANDREW SKINNER: Naquela noite fatídica após a Última Ceia, Lucas registrou que Jesus saiu, como era Seu hábito, e dirigiu-se ao Monte das Oliveiras, seguido pelos discípulos.
KENT BROWN: Parece apropriado que o Jesus ressurreto, após passar quarenta dias com os discípulos, ensinando-os, ascende ao Pai daqui.
ANDREW SKINNER: Então a ascensão do Senhor Jesus Cristo deste monte é o cumprimento na íntegra de toda a história sagrada e secular que aqui aconteceu.
DANIEL PETERSON: Ao final do ministério de quarenta dias, Jesus levou os discípulos ao Monte das Oliveiras, na parte que dá vista para Jerusalém. E lá falou a eles pela última vez, para prepará-los, pois não creio que faziam a menor idéia do que eles enfrentariam.
Uma das questões dos discípulos naquele momento era: Jesus irá restaurar o reino de Israel agora? Eles acreditavam que possivelmente esse seria o cumprimento de suas esperanças messiânicas: a segunda vinda sobre a qual ouviram falar. Jesus morrera, ressurgira e retornara; talvez essa fosse a segunda vinda – o reino de Israel estava para ser restaurado.
ROGER KELLER: Os apóstolos acreditavam que a chegada do reino, por causa da ressurreição de Jesus, era iminente. Basicamente, havia três sinais que os judeus esperavam para a chegada de uma nova era. Um era a ressurreição dos mortos que claramente se cumprira em Jesus e também em outros. O segundo era a vinda do Messias e a terceira era o retorno do Espírito. Isso, de acordo com o livro de Atos, ainda estava para acontecer, mas esses três sinais claramente estão sendo cumpridos. Então foi perfeitamente legítimo para o público judeu questionar-se sobre a proximidade da nova era – a nova era que esperavam.
DANIEL PETERSON: Na verdade, não era o caso. A nova era seria muito mais adiada do que podiam imaginar. Jesus dissera-lhes que ainda precisavam fazer muitas coisas. Eles seriam investidos de poder, receberiam o Espírito Santo, e pregariam o evangelho não só em Jerusalém e Judéia como também na Samaria, e até mesmo nos confins da terra. Os apóstolos tinham muito a fazer e colocariam em prática o que haviam aprendido nos quarenta dias de treinamento. Naquele momento, o Salvador os deixou inesperadamente, pois simplesmente ascendera ao céu.
ROGER KELLER: Enquanto fitavam o céu, dois homens de branco apareceram e disseram: “Por que estais olhando para o céu? Esse Jesus que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (Atos 1:11).
Essa declaração de mensageiros angélicos criou uma expectativa que se espalhou pela igreja e pela comunidade cristã nos últimos 2000 anos, originando uma série de perguntas sobre o que a volta de Jesus significava.
GAYE STRATHEARN: O Velho e o Novo Testamentos estão repletos de profecias sobre os sinais do tempo. Esses sinais precisavam ser cumpridos antes da vinda do Messias em Sua glória. Por séculos, estudiosos e clérigos semelhantemente debruçaram-se sobre essas profecias, na tentativa de determinar a data precisa de Sua vinda. Ao fazê-lo, entretanto, perderam uma parte importante referente a um ensinamento sobre um plano maior e mais complexo que incluía tanto a apostasia como a restituição. Enquanto Paulo ensinava aos tessalonicenses que se questionavam se a segunda vinda estava próxima, lemos: “Porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição” (2 Tessalonicenses 2:3).
RICHARD HOLZAPFEL: A versão do Rei Tiago usa a palavra afastamento nessa famosa passagem em Tessalonicenses, se refere a um conceito que, do grego, é traduzido, especialmente nas línguas românicas, para “apostasia” que significa uma “rebelião íntima.
CECILIA M. PEEK: O termo grego que traduzimos para “apostasia” vem da palavra apostasia, ou apostasis. que é uma palavra bem interessante. Stasis, a raiz dessa palavra, era usada na língua grega clássica, referindo-se à Guerra civil e quase sempre descrevendo disputa, rebelião e conflito. No entanto, o que esse termo geralmente implica é um conflito interno numa cidade-estado grego, ou num grupo específico.
Então tenho a impressão que os primeiros usos do termo apostasia, que estão intimamente ligados a isso, não sugerem muita pressão externa à comunidade cristã, mas sim um atrito crescente, disputa e confusão dentro dessa mesma comunidade.
JARED LUDLOW: Isaías avisou que o povo aproximava-se de Deus com os lábios, mas os corações estavam distantes de Deus ( Isaias 29:13). Amós falou sobre a fome da palavra de Deus. Disse que ao povo faltaria a nutrição espiritual que é essencial ( Amos 8:11).
Então, Jesus ensinou-lhes algumas idéias semelhantes. Então, se acredita que sabia-se que esses problemas e questões surgiriam entre os primeiros cristãos.
RICHARD HOLZAPFEL: A apostasia aconteceu, de fato, em dois níveis. No primeiro, a consequência não-intencional do simples fato do evangelho ter-se espalhado rápido demais e sem as linhas de comunicação, sem a habilidade dos apóstolos – a liderança central em Jerusalém – de se reunirem com freqüência para responderem às perguntas que afligiam a igreja. Eles simplesmente não tinham a oportunidade de continuarem a se congregarem para discutirem sobre questões importantes. A apostasia aconteceu como uma consequência natural do rápido crescimento sem controle central e após certo tempo, a pergunta surge: como nos comunicaremos com uns aos outros?
Contudo, o segundo nível de apostasia é mais pérfido: foi o fato de Jesus e os apóstolos terem profetizado que, no rebanho de Deus, haveria aqueles que buscariam proeminência, autoridade e poder. Pareciam ser aquelas pessoas que realmente derrubavam a autoridade, desafiavam os apóstolos e aqueles que possuíam autoridade, e começavam a ensinar doutrinas que não eram aprovadas pelos doze.
JARED LUDLOW: Nos escritos de João, especialmente, há algo de semelhante. Em 2º João, por exemplo, uma das questões a que João referiu-se é a falsa crença que alguns cristãos primitivos tinham que Jesus de fato não viera à terra na carne, que Ele somente parecera estar na carne e seu corpo fora uma ilusão. Esse ensinamento é conhecido como o docetismo. E João disse que aqueles que acreditavam nele eram enganadores e anticristos. Em 3º João ele também se referiu à questão da autoridade quando alguns indivíduos da congregação usurparam-na, não reconhecendo a verdadeira autoridade dos outros.
CECILIA PEEK: Há uma referência bem interessante numa das cartas de João, em que ele dirigiu-se à congregação de cristãos e disse-lhes que não estavam dispostos a recebê-lo. João, com absoluta certeza, era o apóstolo sênior naquela época. Portanto, foi mencionada uma apostasia, mas não foi casual e sim um ato de rebelião que provavelmente teve início – pelo menos segundo o idioma grego – num tipo de conflito interno na igreja.
NOEL B. REYNOLDS: Tanto as cartas de Paulo como outras cartas mencionam que – e eu contei, informalmente, 24 ocasiões diferentes, quando o autor da carta, um dos apóstolos, acusou um ramo da igreja de apostasia em razão de escândalos em muitos desses casos. Somente uma vez essas cartas do Novo Testamento registram que o ramo ou os membros acusados arrependeram-se e mudaram de comportamento. Na verdade, Paulo e os outros apóstolos viram coisas extremamente ruins acontecerem.
Paulo narrou em determinado ponto que toda a Ásia havia se voltado contra ele. Com isso ele queria dizer as igrejas do país que hoje chamamos de Turquia, muitas das quais eram as principais igrejas primitivas das primeiras missões. Essas são coisas sérias que, com frequência, não prestamos atenção enquanto lemos as escrituras. Não compreendemos a importância disso, por causa do tipo de apostasia que estava acontecendo bem no século um.
KENT BROWN: Hegésipo, um historiador cristão do século II, descreveu o desdobramento de uma apostasia enquanto escrevia para a igreja em Jerusalém. “Eles costumavam considerá-la virgem porque ainda não havia sido corrompida por ensinamentos vãos. Mas Thebuthis, por não ter sido chamado bispo de Jerusalém, secretamente começou a corrompê-la. A partir de então, começaram a surgir falsos Cristos, falsos profetas e falsos apóstolos, que quebravam a unidade da igreja ao proferir palavras ofensivas contra Deus e contra Cristo. Como Hegésipo e outros pareciam haver compreendido, o crepúsculo passara e as trevas da apostasia pairava sobre eles.
RICHARD HOLZAPFEL: Os textos bíblicos e os do Novo Testamento contêm a história dos apóstolos e profetas do século I. Então, nas décadas posteriores, após os apóstolos Pedro e Paulo, houve uma porção de textos – por exemplo, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de Pedro , e o Apócrifo de Tiago . que também narravam sobre as discussões que ocorreram. Com certeza, todos esses textos revelaram que se tratava de um assunto comum, bem conhecido, discutido e debatido. Por exemplo, em Tiago, em relação ao espírito de revelação, diz que o espírito de profecia estava desaparecendo da igreja. Possuímos muita literatura atual – uma série de livros que não são canônicos, mas que contêm certa base histórica para nos auxiliar a compreender o que estava em discussão, como por exemplo: o que aconteceria à igreja.
ALISON COUTTS: Um dos pergaminhos de Nag Hammadi denominado Apocalipse de Pedro. pois referia-se à apostasia em geralNele lemos uma frase comovente: “Pois muitos aceitarão o ensinamento no princípio, mas afastar-se-ão dele novamente, pela vontade do pai do erro, porque fez o que ele queria, revelando-o no julgamento. Mas aqueles que entrarem em contato com eles tornar-se-ão seus prisioneiros, uma vez que estavam sem percepção.” Ele fala, no Apocalipse de Pedro sobre as pessoas que ficaram cegas e surdas ao evangelho. Essa é uma referência direta à apostasia.
DANIEL PETERSON: Discussões, debates e controvérsias sobre a natureza de Cristo e Seu papel na salvação, além de seu relacionamento com o Pai, continuaram por séculos. Um dos eventos mais importantes da história da cristandade foi o Conselho de Nicéia em 325 D.C., durante a qual as pessoas debateram, essencialmente, se Cristo era completamente divino ou era de alguma natureza subordinada – bem alta, mas ainda subordinada e de natureza divina do Pai. De várias maneiras, a disputa versava sobre uma única letra do idioma grego, a letra yota, ou o I. Cristo era homoousios— da mesma substância ou natureza do pai, ou era homoiousios—de uma natureza semelhante, mas diferente da substância do Pai? A conclusão final do conselho foi que Jesus era completamente divino porque se não o fora, não poderia salvar a todos nós como deveríamos ser salvos.
MILTON V. BACKMAN: Após a morte dos apóstolos, não houve substituição dos líderes da igreja. Então, a igreja primitiva cristã passou a não ter a mesma organização, as mesmas crenças e a mesma autoridade. Contudo, apesar da igreja não estar na Terra, as pessoas continuaram a serem abençoadas com a luz de Cristo e com as escrituras. Assim, o Salvador deixou-lhes diretrizes que os capacitaria, caso as colocassem em prática, a herdar o reino que tanto desejavam.
ANDREW SKINNER: Houve muitas almas corajosas, muitos homens e mulheres que reconheceram que o cristianismo estava no caminho errado. Os primeiros reformadores fizeram tudo que estava ao seu alcance para reformar a igreja. Colocaram as escrituras nas mãos das pessoas comuns para garantir que todos compreendessem o que Jesus estava tentando ensinar e as ordenanças que estava tentando estabelecer. Nada do que fizeram foi em vão. Martinho Lutero, por exemplo, fez uma homenagem aos esforços de John Wycliffe. Existiram homens valentes que tentaram fazer o que eventualmente eclodiu através da Reforma Protestante.
Um desses homens extraordinários foi William Tyndale, um gênio, se assim puder o chamar, homem que, na minha opinião, recebeu a influencia do Espírito Santo, chamado, que fez um esforço tremendo ao tomar os manuscritos gregos do Novo Testamento, e do Hebreu original do Velho Testamento, para nos dar a versão da Bíblia que eventualmente desenvolveu-se no que hoje conhecemos como a versão do Rei Jaime. Por causa disso, ele foi queimado vivo. Ele deu a sua vida para que pudéssemos ter esta Bíblia.