KENT BROWN: Assim, Jesus chegou com os onze. Judas já havia se separado do grupo. Eles entraram no jardim, próximo à gruta inferior do Monte das Oliveiras. Ele deixou oito apóstolos próximos ao portão da entrada, e levou outros três para uma área mais distante do jardim. Eles eram Pedro, Tiago e João, que estavam com Ele desde o princípio quando começara a chamar os doze. Há duas observações básicas a serem feitas a respeito disso. A primeira é a intensidade do sofrimento pelo qual Ele passou. E Cristo disse aos três que Sua alma estava cheia de tristeza até a morte. O peso de nossos pecados, de nossos erros, caindo com tanta intensidade sobre um homem sem pecado, fez com que Ele chegasse ao ponto de não querer passar por isso.
Ele os deixou naquele local, afastou-se para um ponto mais distante do jardim e orou, e essa é a segunda parte. Cada um dos evangelhos sinóticos repete as ações de Cristo no tempo imperfeito da língua grega, que é o tempo da ação habitual: “ele costumava fazer isso, ela costumava fazer aquilo”. E esse tempo também tem a ver com a ação rotineira, repetida. Faço essa explicação para que compreendamos que Jesus “ia em frente, caía de joelhos e orava; ia em frente, caía de joelhos e orava; ia em frente, caía de joelhos e orava.” Esses verbos transmitem a idéia de repetição, indicando a intensidade do sofrimento de Jesus. Ele não orou somente uma vez. Ele deve ter Se reerguido e tentado Se fortalecer de alguma maneira, e então seguido em frente e orado novamente. Essa cena é muito forte, pois, pela forma que foi escrita, me diz que Jesus sofreu profunda- e incomensuravelmente naquele momento, por mim e por você.
CECILIA M. PEEK: Lucas dá-nos um detalhe bem tocante sobre o sofrimento de Cristo no Getsêmani, e tal detalhe não nos é dado por nenhum dos outros evangelhos, apesar de termos sua confirmação tanto no Livro de Mórmon como em Doutrina e Convênios. E isto é o que Lucas disse: Kai genomonos en agonia, ektenesterone pros ao heto. Kai agenoto hohedros, al tu hose thromboi haimatos katabainontes epi taingain. Que traduzido, significa: “e posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lucas 22:44).
Existem duas palavras chaves em Lucas que eu gostaria de enfatizar. Uma é o termo em grego agonia, Na verdade, vem da do grego agon que tipicamente seria usada para referir-se a uma competição atlética. E, então, alguns estudiosos tomam a descrição de Lucas, de suor caindo em grandes gotas de sangue, como sendo simplesmente esse acúmulo de ansiedade que um atleta sente antes de uma competição – que é uma interpretação interessante.
Estudiosos das escrituras dos SUD acreditam que realmente foi sangue, enquanto estudiosos de outras denominações cristãs consideram essa frase de Lucas como tendo função adverbial ou adjetiva – sendo que a palavra-chave aqui é hos— Em outras palavras, ele disse se eram gotas de sangue ou como gotas de sangue? E sem nenhuma informação adicional, seria impossível saber com certeza qual dos dois tipos de uso da palavra hos foi usada por Lucas. Mas possuímos escritura restaurada adicional, tanto no Livro de Mórmon, em Mosías, em que lemos que Cristo sangrou por todos os poros, como, mais especificamente, em Doutrina e Convênios, em que o próprio Senhor respondeu a questão em termos explícitos e claros. Ele usou a expressão “em todos os poros” na escritura, referindo-se à própria experiência de sofrimento na Expiação.
Cristo descreveu esse sofrimento com os seguintes termos: “Sofrimento que fez com que eu, Deus, o mais grandioso de todos, tremesse de dor e sangrasse por todos os poros; e sofresse, tanto no corpo como no espírito – e desejasse não ter de beber a amarga taça e recuar – todavia, glória seja para o Pai; eu bebi e terminei meus preparativos para os filhos dos homens” (Doutrina e Convênios 19:18-19).
Se houver qualquer dúvida em relação ao significado das palavras de Lucas, Cristo a esclarece, dizendo que, de fato, Ele sangrou por todos os poros.
MARILYN ARNOLD: O Livro de Mórmon aumenta a nossa compreensão da natureza infinita da Expiação. É interessante o fato do termo expiação infinita , aparecer somente no Livro de Mórmon. Somente os oradores do Livro de Mórmon usam essa expressão. Na verdade, a palavra infinita aparece na Bíblia apenas três vezes, e todas são usadas no Velho Testamento, e não se referem à Expiação de Jesus Cristo. Assim, esse novo conceito expande o idéia da Expiação, classificando-a de infinita.
Através da Expiação, os homens se libertaram tanto da morte como do inferno. Eles se livraram da morte do corpo e do espírito, e Jacó elucidou essa questão com clareza. Esse sacrifício é do filho de Deus, que é infinito e eterno, e nenhum outro ser além de Deus poderia realizar uma expiação infinita. E é infinita porque é o sacrifício do filho de Deus, ser infinito e eterno.
JOHN S. TANNER: Ninguém passa por essa vida terrena sem pecar e, por essa razão, precisamos da Expiação todos os dias de nossas vidas. Assim, sou grato pelo Senhor permitir que eu renove os meus convênios cada semana através do sacramento. Adoro a palavra desejam na oração do sacramento. Porque nela leio: “Desejas tomar sobre si este nome?”. E eu penso: “Senhor, sim, o desejo”. Eu posso não ter sido perfeito durante aquela semana, mas eu renovo os convênios segundo o meu desejo de viver o evangelho. E isso é possível porque o Senhor foi sacrificado por mim. E a única razão que eu posso alcançar meu objetivo é porque o Senhor possibilitou que ligássemos nossa força à Dele, a fim de aumentarmos a nossa capacidade com a Sua capacidade, porque Ele não apenas nos perdoou; Ele nos ajuda a sermos quem temos a capacidade de ser, mas somente através da Sua ajuda. Sinto isso todo dia e é grande demais para mim e às vezes também é difícil demais. Como farei isso? Cristo tornou isso possível através de Sua graça.
VIRGINIA PEARCE: Há uma sinergia maravilhosa entre a minha responsabilidade de fazer tudo o que posso, e a Dele – não somente a responsabilidade, mas a promessa do convênio feita a mim de que Ele fará o que eu não conseguir fazer. E é isso que é a “graça”. Ele não tem somente o desejo de me perdoar e acabar com essa dor, mas Ele também tem o desejo de curar as feridas daqueles que eu feri. Assim, existe graça, sempre, em todo lugar, em ação em nossas vidas. Até mesmo quando nos esforçamos, trabalhamos e fazemos tudo aquilo que somos capazes de fazer.
MARILYN ARNOLD: A oração que Jesus proferiu no Getsêmani foi muito breve, mas é comovente e nos toca profundamente. Nessa oração, Jesus desabafa. Ele sabia o tipo de provação que enfrentaria e então abriu a Sua alma ao Pai Amado. E se percebe muitas coisas que podem ser aplicadas em nossas vidas, como o maravilhoso relacionamento que Jesus e o Pai possuem.
Na narrativa da oração em Marcos – e o estilo é o mesmo em todas as demais narrativas dos evangelhos – Marcos acrescenta uma palavra. Ele acrescenta a palavra Abba. . Jesus se dirige ao Pai como Aba, “Pai”. Esse é o tipo de relacionamento íntimo que Ele tinha com o Pai. E às vezes, alguns de nós sentimos que o Pai está tão distante de nós que temos muita dificuldade de falar com Ele: temos medo – e é adequado usar vocabulário formal – mas precisamos compreender que Ele nos ama e que podemos ter esse tipo de relacionamento afável com Ele.
E Jesus, no Getsêmani, pede ao Pai se Ele poderia livrá-lo daquele sofrimento. Mas, então, Ele usou a palavra todavia — todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
CYNTHIA HALLEN: Então, Jesus padeceu a dor, a tristeza, o desapontamento e o medo de fracassar, a dor da rejeição, a saudade de casa e o desejo de se reunir às pessoas que amava, para que nós tivéssemos alegria e beleza a partir das cinzas. Ele o fez literalmente, porque não queria que tivéssemos uma alegria falsa ou algum tipo de felicidade falsificada ou cosmética. Ele quer que tenhamos uma alegria verdadeira por termos o perfeito amor que Ele teve, e o perfeito amor que o Pai Celestial possui.
BRENT L. TOP: A Expiação de Jesus Cristo é profundamente pessoal, pois é o poder que me transforma, altera meus desejos, minha natureza. Isso é o que a Expiação de Jesus Cristo é. Ela nos redime, salva, eleva, ama, transforma-nos em novos seres.
KENT BROWN: Sem dúvida, uma das histórias mais conhecidas do Novo Testamento é a encarceramento de Jesus. As conspirações e as intrigas começaram meses e meses antes disso, e houve uma que foi semeada na Galiléia, contra Jesus. Aparentemente, os conspiradores se encontraram quando Jesus curara o homem da mão mirrada.
Então, finalmente chegara a hora. Judas conduziu um bando de pessoas para onde suspeitava que Jesus e os onze estariam. Todos os evangelhos sinóticos narram que Judas se aproximou de Jesus para beijá-lo. Tanto Mateus como Marcos disseram que Judas o beijara, mas Lucas o deixa subentendido; ele não diz exatamente que Judas O beijou. Eu, às vezes, imagino que Lucas tenha ficado tão ofendido com essa cena que ele mesmo não conseguia imaginar aquele traidor beijando o Mestre.
Quando a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus chegaram lá, Jesus aproximou-se deles e perguntou-lhes: “A quem buscais?” Responderam-lhe: A Jesus o Nazareno, obviamente. E Jesus lhes respondeu: “Sou eu.” Essa expressão é o nome divino que isola-se de tudo o que Jesus dissera, quando disse: “Sou eu”. E essas pessoas, que aparentemente estavam um pouco amedrontadas, perguntavam a si mesmas o que poderia vir a acontecer a elas, e então começaram a recuar, e um acaba por pisar no pé de outro que está atrás e assim todos caem no chão. Foi, de certa maneira, uma cena meio cômica, apesar de ser, com certeza, muito séria.
Após levantarem-se novamente e se recuperarem, Jesus perguntou-lhes novamente: “A quem buscais?” Responderam-lhe, então: “A Jesus Nazareno”. Disse-lhes Jesus: “Sou eu” (João 18:4–8)
RICHARD ANDERSON: Quando Jesus foi preso no Jardim do Getsêmani, os apóstolos, aterrorizados, fugiram. Eles haviam confrontado os oficiais da corte, e Pedro, em particular, foi classificado como inimigo por haver atacado um dos indivíduos que tentara prender Jesus. Então, os apóstolos sentiam que eram homens perseguidos, e por isso não revelavam em nenhum momento onde estaríam, apesar de sempre estarem juntos, em conselho, tentando se reequilibrar, descobrir o que acabara de acontecer e enfrentar a desilusão de todos os sonhos e planos. Agiram assim porque não compreenderam por completo a profecia, e como ela seria cumprida quando Jesus dissera que os deixaria.
KENT BROWN: Então, eles O prenderam e partiram presumivelmente para o Vale do Cedro, caminhando rumo ao portão mais distante do lado leste da cidade em que entrariam, e então subiriam os vários degraus até a residência do Sumo-Sacerdote.
JOHN S. TANNER: Após a sua encarceração no Getsêmani, Jesus agora exausto, retornou do Vale do Cedro e teve de subir a íngreme escadaria até o palácio de Caifás , o Sumo-Sacerdote. Ele foi seguido por Pedro e outro discípulo até o seu destino. E lá, no palácio de Caifás, enquanto Pedro esperava na escuridão, Jesus, o eterno juiz, foi julgado pelos homens em uma audiência noturna ilegal em que o veredicto foi decidido bem antes do início dos procedimentos. Mateus comenta sobre a ironia disso, pois alguns de Seus juízes haviam se encontrado no mesmo palácio dois dias antes e deliberado que deveriam prendê-Lo e usar de astúcia através de falso testemunho para matá-Lo (Mateus 26:4, 59).
ERIC D. HUNTSMAN: Apesar das narrativas do evangelho pintarem um quadro dramático dos eventos daquela noite horrível quando Jesus foi levado até as autoridades hebraicas, e depois aos governantes romanos, é necessário lembrarmo-nos que isso não nos dá o tipo de detalhe jurídico que realmente precisaríamos para compreender exatamente o que aconteceu sob um ponto de vista técnico. Elas tentaram fazer uma descrição da maneira horrível e ilegal que o Salvador do mundo havia sido julgado, insultado; além da maneira que todos os envolvidos, tanto os líderes judeus como os romanos, estavam comprometidos nessa errônea condenação. Na verdade possuímos muito pouca evidência sobre como os tribunais hebraicos eram realizados no templo do segundo período, a partir de fontes contemporâneas. O que temos, na verdade, é uma grande quantidade de informação, decisões judiciais, opiniões, lembranças de como as coisas eram feitas a partir de uma fonte anterior chamada Mishná, que foi compilada por volta do ano 200 A.D. Essa fonte poderá dar um relato real da prática legal da época de Jesus, mas, às vezes, poderá não relatar o que de fato acontecera.