Quem é este vulto da antiguidade que se encontra na encruzilhada da história? Ele é um grande mestre? Um revolucionário? Um profeta? Ou ele é, de fato, o filho divino de um pai divino? O salvador literal do mundo? Ao tentar responder a essas perguntas, vários estudiosos descartam a parte divina e a separam do Jesus da história – o mortal – do Jesus da fé, o Filho de Deus. Atualmente, os estudiosos Santos dos Últimos Dias tentam combinar história e fé, erudição e revelação moderna a fim de obter uma compreensão mais completa sobre quem Jesus foi e quem é.
Durante a vida mortal de Jesus de Nazaré, cada passo dado e palavra proferida conduziram – por fim – à expiação. Quando trouxe Lázaro de volta à vida, Jesus desencadeou os últimos dias de Seu ministério terrestre. Para o mundo cristão, os locais e ambientes em que Jesus deu os últimos passos rumo à expiação tornaram-se sagrados: o Cenáculo, o Jardim do Getsêmani, o Calvário e a sepultura vazia.
KENT BROWN: Quando Jesus restaurou Lázaro a vida, a hora de sua ressurreição logo se aproximava, tendo como testemunhas tanto amigos como inimigos. Trazer Lázaro de volta à vida tornou-se um sinal inegável de que aquele homem possuía poder sobre a vida e a morte. Para os amigos de Jesus, foi um milagre de regozijo e a multidão cantaria depois: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas” (Lucas 19:38). Mas, para os Seus inimigos, esse evento, somado à purificação do templo, foi a gota d’água: “Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem” (João 11:53).
KERRY MUHLESTEIN: Algo interessante que sempre aconteceu ao longo da história é que diversos grupos culparam uns aos outros pela crucificação do Salvador, e várias pessoas querem deixar claro que não levam a culpa. E com certeza, à medida que se analisa o fato, percebe-se que há o populacho que parece ter participado; também o Sinédrio, ou os governantes dos judeus, e os romanos que de fato o executaram. Parece que há tantas pessoas envolvidas que é óbvio que nenhum único grupo é culpado, e que não deveríamos estar procurando por um responsável.
RICHARD HOLZAPFEL: Esta passagem em 1 Coríntios, capítulo 15, que provavelmente é uma das primeiras narrativas do sofrimento e da morte de Jesus, é anterior aos evangelhos, anterior a Mateus, Marcos, Lucas e João. Paulo escreveu: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi.” Em outras palavras, não estou lhes dizendo algo de novo, vocês já sabem disso. Estou contando-lhes uma história que já fora contada antes. Então, estou repetindo essa história que já é conhecida sobre como Cristo morreu pelos nossos pecados, de acordo com as escrituras, e que Ele foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras.
Se não formos cuidadosos, é possível que não compreendamos a nuance que Paulo está tentando dar. Ele está tentando oferecer-nos um ponto de vista histórico: Ele morreu, foi sepultado e ressuscitou, no entanto o detalhe mais importante aqui é que foi de acordo com as escrituras. Ele fora pré-ordenado. Os profetas, homens e mulheres sagrados e sábios que viveram durante a época do Velho Testamento sabiam disso. Sabiam que o Messias, o Senhor Deus de Israel, passaria por tudo isso.
Mas então, noutra nuance posterior, e encontramos provavelmente a coisa mais significativa para Paulo. Novamente, percebemos que aqui não há um responsável pela sua morte, nem mesmo se menciona onde e quando exatamente tudo aconteceu. Esses detalhes são importantes para a narrativa dos quatro evangelhos, mas, para Paulo, o que importava era que Jesus havia morrido, de acordo com as escrituras, pelos nossos pecados. E essa era a verdadeira pergunta: “Por que o Messias morreu?”
Assim, quando pensamos sobre o Getsêmani, relembramos que Ele tomou sobre si os pecados do mundo, e Seu sofrimento teve início lá, culminando na cruz. Mas quando pretendo falar sobre a questão da culpa ou responsabilidade, penso em mim mesmo. É o sofrimento pelo pecado humano, os meus pecados, as minhas transgressões. E como resultado, o Novo Testamento realmente aborda a questão da razão que Jesus teve de morrer e não de quem era o culpado por isso.
JOHN S. TANNER: Tomemos alguns minutos para nos orientarmos um pouco. Acho que a primeira coisa que eu percebo ao olhar para esta vista é que há muitas montanhas. E podemos ver algumas destas montanhas, algumas das mais importantes, bem aqui. De fato, comecemos com o Monte das Oliveiras.
KENT BROWN: Com certeza, é o monte predominante. E, além do declive, ao leste, ao longo de uma pequena depressão, há uma colina. Podemos imaginar Jesus vindo de aquele minarete, um pouco mais abaixo.
JOHN S. TANNER: E aquela é a vila chamada Betânia.
GAYE STRATHEARN: Sim, Betânia é a cidade – é o lar de Maria, Marta e Lázaro. Foi aqui que Jesus passou a última semana de Sua vida. Portanto, Ele viajava todos os dias de Betânia a Jerusalém, mas então Ele retornaria a Betânia, provavelmente porque João nos disse que Ele amava Maria, Marta e Lázaro.
JOHN S. TANNER: E mais adiante, há a Igreja de Todas as Nações, próxima ao pé do monte, o Monte das Oliveiras. E lá fica o jardim de Getsêmani. Então, passa pelo riacho de Cedro bem ali no jardim do Getsêmani.
Vamos começar agora, vamos para o Monte das Oliveiras de onde se podia ver Jerusalém.
KENT BROWN: Primeiro, há as paredes da área do antigo templo. Na verdade, existe um portão que trespassa a parede bem aqui, próxima ao monte sagrado, chamado Portão Dung. Há também o Portão de Sião e, bem ao lado do Portão de Sião, no lado externo da parede, fica a Basílica da Dormição, o edifício com o domo imponente. E próximo dela fica o Cenáculo, não é mesmo?
GAYE STRATHEARN: Sim. É o local tradicional onde acredita-se que Jesus se encontrou com os discípulos para a Última Ceia.
Jesus foi bem especifico em escolher o Cenáculo para a instituição do sacramento. O que Ele fez, de fato, naquele local, foi de tomar a Páscoa, que era uma comemoração judaica de extrema importância, para ensinar sobre si e para institucionalizar uma lembrança de si como parte dela. A Páscoa, como vocês se lembram, é uma recordação da época em que o Egito escravizou Israel. Moisés estava no Egito e agia sob a orientação divina para auxiliar os israelitas a se livrarem da escravidão egípcia. Então, o Senhor enviou uma série de pragas a fim de que o Faraó libertasse Israel. A última das pragas foi a morte do primogênito – não somente o primogênito do povo como também dos animais. Portanto, os israelitas tomariam um cordeiro sem mácula, que fosse primogênito, e o ofereceria em sacrifício. Tomariam, então, o sangue desse cordeiro e o passaria na verga da porta e em ambas as ombreiras para que o anjo destruidor passasse por suas casas sem matar seus filhos.
Há 1.500 anos, os israelitas reúnem-se em famílias para se relembrarem e contarem a história do grande exemplo de como Deus libertou o povo do convênio. Então, quando o Salvador escolheu a Páscoa, Ele fez uma declaração bem precisa aos discípulos e a todos que O escutariam, de que Ele era o Cordeiro, a representação daquele cordeiro que foi sacrificado há 1.500 anos.
Agora, quando João Batista apresentou Jesus aos seus discípulos e, de certa maneira, os convenceu, é preciso acompanhar as suas palavras, que foram: “Eis o Cordeiro de Deus”. E todo judeu as teriam compreendido se tivessem levado em conta a Páscoa. Cristo é o Cordeiro Pascal. O que Ele faria no dia seguinte, como um ser sem pecado, o Primogênito do Pai, o Unigênito (único filho de Deus concebido na carne), que se ofereceu espontaneamente como sacrifício a todos os que viessem a Ele, o tornaria o Cordeiro Pascal. E assim Ele lançou mão de tudo isso para efetivar a transição do que aconteceu no antigo convênio para o que seria compreendido como o novo convênio.
“E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos” Mateus 26:26-27
A narrativa mais antiga da instituição do sacramento não é encontrada, de fato, nos quatro evangelhos e sim no capítulo 11 de 1º Coríntios, o que considero interessante. Assim, o que aconteceu em Corinto? Houve problemas com o sacramento e Paulo escreveu aos membros da igreja daquela região na tentativa de por algumas coisas em ordem. E faço duas observações.
No versículo 23, ele diz: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei.” Isto é, as palavras receber e ensinar são termos técnicos. Formalmente, está repassando-lhes o que recebera formalmente. E, com certeza, Paulo não estava presente durante os eventos da última ceia, mas aprendera sobre eles através dos discípulos ou talvez até mesmo do próprio Senhor. Paulo, então, continuou, descrevendo o que aconteceu no versículo 24: “E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.”
Uma das diferenças significativas sobre a narrativa de Paulo em comparação com o que encontramos nos quatro evangelhos é a palavra memória , o partilhar do pão e do vinho seria feito em memória do que Jesus havia realizado. Há somente uma narrativa, a de Lucas, onde Ele realmente usou a palavra memória . É interessante que, na narrativa de 3 Néfi, quando Jesus instituiu o sacramento entre o povo das Américas, deixou claro que isso seria feito em Sua memória. Assim, é significativo que a primeira narrativa que temos do sacramento na Bíblia em 1º Coríntios 11 é realmente, em muitos aspectos, mais próxima a de 3º Néfi do que na dos evangelhos. Portanto, entendo que o Livro de Mórmon nos auxilia a compreender e a reconhecer as coisas históricas que aconteceram nos primórdios da igreja cristã.
JOHN F. HALL: Mas a Última Ceia não foi somente uma ocasião de ensino, apesar de também o ter sido. Consistia de uma ordenança, uma ordenança sagrada, que o Salvador realizou pelo menos para os apóstolos – o lavar dos pés. E lembramo-nos de que Pedro se opôs a ela. E vocês se lembram da resposta de Jesus? Ele disse: Pedro, “se eu não te lavar, não tens parte comigo.” E Pedro, então, respondeu: “Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.”
Bem, a ordenança como realizada, fez com que os apóstolos recebessem o próprio Cristo. Sua ligação com Jesus foi selada . Eles seriam de Cristo por toda a eternidade. Que bênção extraordinária! E então, foi no contexto dessa bênção que o Salvador deu os ensinamentos que encontramos no capítulo 17 de João.
A oração intercessória de Jesus. João, Capítulo 17. 3 E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. 14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. 20 E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim. 21 Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
ALAN K. PARRISH: A oração intercessória, mais que qualquer outra coisa, é a oração sincera de Jesus ao Seu Pai para que, de certa maneira, aqueles que ficavam para trás, grandes homens e mulheres, discípulos de Jesus, tivessem conforto e segurança, proteção e auxílio; que pudessem, em sua obra e ministério, aproximar-se da unidade que o Pai possui. E a parte mais indispensável e tocante da oração é o apelo para que pudessem ser um como o Pai e o Filho eram um. Essa unidade é a essência da oração, pois Cristo sabia, sem sombra de dúvidas, das adversidades que enfrentariam. Jesus acabara de mencionar que Pedro, antes que o galo cantasse naquela importante e trágica noite, negaria Cristo, ou seu conhecimento de Cristo, ou associação com Cristo, três vezes. Portanto, Jesus tinha conhecimento das provações e aflições a que os apóstolos seriam submetidos. E, ainda assim, em Sua sincera oração, e talvez essa tenha sido a razão de Sua súplica, pediu que os discípulos recebessem conforto além da unidade que os capacitaria a fazer o que precisavam – como Seus apóstolos.
GAYE STRATHEARN: Os Santos dos Últimos Dias vêem os fatos que começam aqui no Getsêmani de maneira bem diferente da maioria da cristandade hoje em dia. Para muitos cristãos, o Getsêmani é o lugar onde Jesus se preparou tanto espiritual- como psicologicamente para sua iminente crucificação. Entretanto, para os Santos dos Últimos Dias, o Getsêmani é o ponto fundamental da Expiação, o lugar onde o Jesus, o Cordeiro sem mácula, sofreu pelos pecados do mundo.
CECILIA M. PEEK: O processo de preparação de azeite é fascinante. Nos olivais primeiro se colhe as azeitonas que então são colocadas numa imensa bacia de pedra e esmagadas por uma prensa, criando, assim, um tipo de pasta. Mas o processo ainda não está completo. É neste momento que a pasta obtida é colocada em cestas de vime que, por sua vez, são amontoadas e prensadas em um lagar de azeite. O lagar, ou prensa, – que em hebraico é Gat shemanim, ou getsêmani, – entra em cena prensando a pasta nas cestas de onde lentamente escoam água e azeite das azeitonas. E, de fato, o primeiro líquido que escorre é vermelho como sangue, e mancha qualquer coisa. Então, a imagem do sofrimento de Cristo num local chamado Getsêmani descreve, de fato, o sofrimento e sangramento do Salvador.