S. KENT BROWN: Ao longo da costa ao norte daqui, Jesus chamou Simão Pedro, seu irmão André e a seus companheiros, Tiago e João. Como eles responderam? O texto diz: “E, deixando logo as suas redes, o seguiram”. A narrativa continua: “E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo”. Centenas e até mesmo milhares de pessoas acorreram ao humilde, mas extraordinário mestre de Nazaré que curava o doente dava visão ao cego e cujos ensinamentos deixavam maravilhados os sábios e inspiravam os humildes de coração. Mas Jesus não estava interessado simplesmente em ganhar seguidores. É muito claro que esse homem, o Cordeiro de Deus, possuía não só o poder para curar os doentes, mas também a autoridade para batizar com fogo e com o Espírito Santo. E além dessa autoridade, tinha também a incumbência de estabelecer o reino de Deus na terra.
ERIC D. HUNTSMAN: Às vezes, a tentativa de reconciliar as diferentes narrativas do evangelho, especialmente quando os discípulos receberam seus chamados, é um trabalho frustrante. No evangelho de João, Ele começou a reunir um pequeno grupo de seguidores logo no início do capítulo um. Mas nos evangelhos sinópticos, encontramos essas mesmas pessoas pescando, ocupadas no cumprimento de suas tarefas habituais, e foi que preciso que Jesus chamassem-las para segui-lo. Com frequência eu tenho a impressão de que essas pessoas o conheciam. Na verdade, alguns deles eram ligados a Jesus por laços de família. E então as pessoas devem ter começado a se aproximar de Jesus, e até mesmo começado a acreditar que ele era o Messias, mas isso não significava que Ele os havia chamado ao serviço em tempo integral até que Ele efetivamente fizesse o chamado a Pedro, André, Tiago e João quando estavam em seus barcos.
S. KENT BROWN: A organização da igreja era bem primitiva e os apóstolos ocupavam os cargos mais altos. Por quê? Porque eles haviam sido comissionados pelo Senhor. E nesse sentido, são únicos. Eles não são pessoas cuja autoridade é de certa maneira secundária. Na verdade, são pessoas cuja autoridade provem diretamente Dele. E tornaram-se as suas principais testemunhas, certamente da ressurreição e também do Seu ministério mortal.
RICHARD D. DRAPER: É interessante que dentre todos os títulos que Jesus podia ter dado a esses homens, Ele escolheu a palavra apóstolo. A palavra vem do grego, apóstolos . e está relacionada ao verbo apostello. Apostello significa “enviar”, mas traz consigo a idéia de enviar algo de propósito.
Assim, no século três, há uma alteração bem interessante dessa palavra. Os cínicos, um grupo de filósofos que diziam ser verdadeiros mensageiros de Zeus, e que sua mensagem devia ser levada a sério, se chamaram de apóstolos. Vejam bem, eram os “enviados e comissionados”. Então, a partir do século três em diante, a palavra realmente passou a conter essa idéia do divino e do comissionado. Então Jesus escolheu uma palavra perfeita ao usar o termo “apóstolo” como título. Imediatamente, as pessoas captariam a idéia de que eles eram homens comissionados.
FRANK F. JUDD: Quando o Salvador chamou os doze apóstolos, “Ele deu-lhes poder”, segundo a versão bíblica do rei Tiago. Uma melhor tradução podia ser “autoridade,” Ele lhes a autoridade do sacerdócio para agir como Ele. E então a ênfase está na autoridade que Ele havia transmitido a eles, que Jesus havia lhes dado, que Ele mesmo possuía. Temos referência de Paulo, no capítulo 14 de Atos, ordenando élderes na igreja. E o verbo lá encontrado significa “estender a mão,” que pode significar “votar” ou “apoiar”, mas também “ordenar”. Então assumimos que Paulo e outros estavam seguindo uma prática normalmente aceitável na Igreja, que era a ordenação pela imposição das mãos.
RICHARD D. DRAPER: O evangelho de Felipe nos diz que o que possuímos aqui não é algo que Jesus apenas observara, mas sim algo que Ele próprio havia vivenciado. De fato, a maneira de delegar autoridade seguia um padrão. O Pai ordenou o Filho pela a imposição das mãos, então o Filho, por meio da imposição das mãos, ordenou a liderança que, por sua vez ordenou aqueles que foram chamados. E então isso demonstra que de fato há um método pelo qual a autoridade é transmitida.
S. KENT BROWN: Há um breve tema nisso: a idéia de que o reino de Jesus, a casa de Jesus, é uma casa de ordem, e que a ordem é realizada por meio de atos físicos, palpáveis e tangíveis que conferem autoridade e direitos aos que a recebem. Lucas nos oferece a primeira narrativa detalhada sobre o chamamento dos primeiros quatro apóstolos. Eles consistiam de dois grupos de dois irmãos: Pedro e seu irmão André, e Tiago e seu irmão João. Lemos que Jesus estava junto ao mar da Galiléia, e havia um grupo de pessoas que queria ouvir a palavra de Deus. Então Jesus viu dois barcos, subiu no barco de Pedro e pediu que ele o afastasse um pouco da terra; e então continuou a ensinar do barco à multidão. Pedro estava presente, havia lavado e dobrado as redes, e ouvira todo o sermão (Lucas 5).
No final do sermão, Jesus disse a Simão: “Faze-te ao mar alto e lançai as vossas redes para pescar.” Pedro protesta e diz: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas,” – gosto desta parte – “sobre a tua palavra, lançarei a rede”. Lucas relata: “E, fazendo assim, colheram uma grande quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede.”. Então chamaram seus colegas, Tiago e João, que estavam no outro barco, para que os fossem ajudar, e eles foram. E vocês se lembram do final dessa história: eles encheram os barcos de peixes a ponto de os barcos quase afundarem.
Jesus, naquele momento, os chamou e pediu que abandonassem sua profissão – eles eram pescadores, e era assim que se sustentavam. Então o que fariam suas famílias? Jesus deixou uma quantidade de peixes suficiente para alimentá-los por meses, e que os permitiria vender peixes por muitos meses. O problema é que em de quarenta e oito horas todo aquele peixe se perderia. Até que nos deparamos com uma pequena nota de Estrabão, que foi um geógrafo naquela época, dizendo que da costa oeste chegava-se até a cidade de Magdala. Ele a chamou de um nome diferente, mas é o mesmo lugar. E havia lá uma indústria de salgamento de peixes. Tudo o que aquelas pessoas precisavam fazer era remar e conduzir seus barcos até Magdala onde poderiam salgar os peixes, colocando-os em salmoura e em conserva para que suas famílias tivessem comida por vários meses. Além disso, eles também tinham peixe para vender no mercado, em Cafarnaum e em qualquer outro lugar. Jesus cuidou das famílias dos apóstolos ao prover as suas necessidades. Ele estava chamando os arrimos de várias famílias, Ele sabia disso, mas estava deixando algo para essas famílias. E eu adoro isso, a idéia de que foi possível conservar todo aquele peixe, satisfazendo as necessidades das famílias por meses e meses.
O que os líderes locais da época de Jesus não conseguem compreender ou aceitar é que o homem do interior do leste da Palestina que fazia palestras e curava era, de fato, o Messias a quem aguardavam com tanta ansiedade. Logo a sua oposição e os seguidores aumentariam em número, a reação ao Seu ministério público se intensificaria, e Jesus passaria os próximos três anos de Sua vida demonstrando que era, de fato, o Senhor do templo, do Sábado, do céu e da terra, da vida e da morte. “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?”. Jesus respondeu: “Vem e vê”.
O batismo de Cristo assinalou o início de um ministério extraordinário. Após retornar do deserto da Judéia, Jesus manifestou o seu poder e a sua autoridade. Ele curou doentes e aflitos, afugentou os comerciantes do templo e, ao chamar os doze apóstolos, estabeleceu Sua igreja na terra. Esses homens chamados pelo Salvador receberam poder e autoridade do alto e seriam os líderes da Igreja uma vez que a fase final de Seu ministério terreno fosse cumprida.