Quem é este vulto da antiguidade que se encontra na encruzilhada da história? Ele é um grande mestre? Um revolucionário? Um profeta? Ou ele é, de fato, o filho divino de um pai divino? O salvador literal do mundo? Ao tentar responder a essas perguntas, vários estudiosos descartam a parte divina e a separam do Jesus da história – o mortal – do Jesus da fé, o Filho de Deus. Atualmente, os estudiosos Santos dos Últimos Dias tentam combinar história e fé, erudição e revelação moderna a fim de obter uma compreensão mais completa sobre quem Jesus foi e quem é.
Relatos de testemunhas oculares daqueles que apalparam o recém- ressuscitado Salvador, poucos dias após a sua crucificação e enterro, apóiam a crença de uma união física do corpo e espírito de Jesus. Caso estivesse na estrada para Emaús ou ensinando no templo no Novo Mundo, a aparição de Jesus Cristo declarou Seu triunfo sobre a morte quando Ele convidou a todos que viessem a Ele.
JOHN S. TANNER: Para crentes, é a ressurreição — um evento que pode ter acontecido aqui mesmo —que coroa o ministério de Jesus. O distingue de todos os seus antecessores. Houve professores, profetas e curandeiros, mas nenhum deles possuía o poder de sacrificar a própria vida e então retomá-la novamente. Foi a ressurreição que providenciou a base da doutrina de todo o cristianismo. Sem ela, a o cristianismo seria apenas um conjunto de crenças, histórias e mensagens inspiradoras sobre como viver uma boa vida. No entanto, não seria o mesmo cristianismo de hoje.
ANDREW SKINNER: Sabe, John, com a ressurreição de Jesus Cristo, passamos a ter a mensagem das eternidades. Esse conhecimento é o centro de tudo o que acreditamos. É a fonte coesiva e central de apoio e estabilidade de nossa fé. E ainda, de maneira irônica, é do cristianismo em voga e de alguns estudiosos do Novo Testamento de onde muito do ceticismo que vemos, surge.
GAYE STRATHEARN: Mas nada disso altera os testemunhos de algumas mulheres de uma província romana desconhecida, que, numa bela manhã de primavera, como a de hoje, há 2.000 anos, algo se passou que nunca acontecera antes.
JOSEPH FIELDING MCCONKIE: O que é “ressurreição”? É algo interessante que a palavra ressurreição não é encontrada no Velho Testamento. E na integralidade da Bíblia, de Gênesis até Apocalipse, não se encontra uma definição de ressurreição . É por essa razão que o evangelho restaurado é tão maravilhoso. Quando lemos Alma por exemplo, percebemos que ele é quem menciona que a ressurreição é a união inseparável do corpo e do espírito. Tão simples como parece, essa doutrina torna-se a base sobre a qual todas as verdades do evangelho se apóiam.
RICHARD D. DRAPER: A parte mais indigesta do pudim teológico dos antigos santos é a idéia de uma ressurreição física ou corporal do Senhor. Em torno do século quatro, a tensão de fato resolve-se, infelizmente na opção por uma ressurreição incorpórea. E esses estudiosos, portanto, negaram por absoluto a ressurreição corporal do Senhor, e que fora apenas uma apologia.
Geralmente as explicações incidem em três categorias. A primeira centraliza-se no poder da personalidade do Senhor. Ele era tão carismático que os primeiros discípulos simplesmente não conseguiram superar a Sua morte e, como resultado, houve um conflito interno, uma tensão coletiva do grupo e assim por diante criou-se um tipo de neurose. O resultado disso foi um tipo de alucinação amplamente difundida que eles teriam visto Jesus. A segunda [UH] vem da idéia que Jesus, na verdade, não morrera na cruz, mas, em vez disso, se ressuscitou no sepulcro , fez sua aparição e, então, se retirou. A terceira, bem interessante, é condizente com o cenário judeu, isto é, aquele encontrado em Mateus 28, onde os judeus pagaram aos guardas para dizerem que os discípulos de Jesus haviam roubado o corpo e que então passaram a difundir essas histórias sobre a ressurreição.
JOHN S. TANNER: Há muita atenção dada às disparidades das narrativas dos evangelhos sobre a ressurreição.
ANDREW SKINNER: Perguntas como: “Havia um ou dois anjos próximos ao sepulcro?”, “Pedro estava só quando viu o Senhor ressurreto ou estava com João, o outro apóstolo?” Esses tipos de perguntas fizeram com que alguns estudiosos do Novo Testamento considerassem as provas da ressurreição “confusas e frágeis.” E suponho que, se somente tivéssemos as narrativas do Novo Testamento, essa confusão seria compreensível.
JOHN S. TANNER: Certo, mas se considerarmos a revelação moderna, como o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convênios e o testemunho dos profetas modernos, então as provas da ressurreição física e literal de Jesus como um ser glorificado seriam extraordinárias.
ANDREW SKINNER: Aprecio as palavras de um estudante diligente das escrituras que uma vez disse: “Não existe nenhum outro fato ou evento na história da qual tenho mais certeza do que da ressurreição corporal, física do Senhor Jesus Cristo.” E esse aluno também era, por acaso, um profeta de Deus, o Presidente, Ezra Taft Benson.
RICHARD D. DRAPER: Possuímos muitas boas evidências, provenientes da igreja primitiva, de que realmente um evento histórico aconteceu aqui. Por exemplo, existiram pessoas que realmente viram e escutaram o Senhor, como os dois homens na estrada de Emaús e os dez discípulos. Paulo disse que havia, de fato, 500 irmãos que viram Jesus na mesma ocasião. Então, com certeza, o próprio Paulo viu o Salvador.
Mas existe outro tipo de testemunha, que são aqueles que não só O viram e escutaram como também O tocaram. As mulheres que visitaram o sepulcro foram enviadas para contar aos apóstolos sobre a ressurreição, no entanto, elas se encontraram com Cristo no caminho. É interessante o fato de elas terem se aproximado Dele, abraçado os Seus pés e O adorado. Mas o idioma grego é bem forte nesta parte da narrativa. A palavra usada ékratao, que significa agarrar. Elas não apenas esbarraram Nele ou tocaram-no levemente. Elas não só tocaram o Senhor, como também o abraçaram fortemente.
Então, com certeza, temos o próprio Tomé que disse: “a não ser que toque o sinal dos cravos em suas mãos, não acreditarei.” Então o Senhor apareceu e o que disse? “Aqui estou, este é o sinal do cravo em minhas mãos.” Assim, Tomé também recebeu um testemunho tangível. No entanto, alguém muito interessante parece passar despercebido, possivelmente por conta de problemas de tradução: Maria Madalena. O texto do Rei Jaime narra que Jesus apareceu a ela no sepulcro e, aparentemente, de acordo com a narrativa, ela tentou tocá-lo, mas Jesus disse: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” no céu. A gramática grega sugere a existência de uma tradução melhor. Temos um Presente do Imperativo acompanhado por uma negação que significa: “Pare de fazer o que estás fazendo agora.” E com ela, a palavra grega não é kratao, que significa agarrar, mas sim hopto, que significa abraçar. Acredito que Jesus disse naquele momento: “Preciso me concentrar na obra de meu Pai. Este é um momento muito doce, mas tu precisas parar de me abraçar para que eu possa ir fazer o que o Pai quer que eu faça.
Portanto, as mulheres, Tomé, e talvez os outros apóstolos, e Maria seriam as três testemunhas. Eles sabiam, pois haviam visto o Senhor. Qual foi a consequência disso? Uma foi que Pedro prosseguiu corajosamente. E qual é a idéia central desse fato? Pregamos sobre o Cristo crucificado e o Cristo ressurreto. Essa é a mensagem.
JOSEPH FIELDING MCCONKIE: As duas histórias mais extraordinárias, em relação ao evangelho de Jesus Cristo, seriam a do nascimento de Cristo, que é a realidade […] da Sua divina filiação ao Pai, e a realidade de Sua ressurreição, que coroa o seu ministério e ilustra que Ele realmente é o Filho de Deus. E, nos dois casos, mulheres têm um papel proeminente como testemunhas especiais desses acontecimentos.
VIRGINIA PEARCE: Adoro o relacionamento que o Salvador mantinha com as mulheres no Novo Testamento! A história da mulher neste mundo é está cheio de conturbes, e nós já passamos por épocas bastante difíceis em termos de quem somos e como devemos ser tratadas. E, apesar de termos conosco um livro que tivera de sobreviver por centenas de anos, ainda assim é impossível ignorar tais expressões de amor e respeito. Jesus nunca foi condescendente. Ele era gentil, firme, respeitoso e ensinava a elas toda a doutrina que ensinava aos homens. Não existia diferença entre homens e mulheres para Ele, e porque haveria de existir? Ele é o Deus deste mundo, que veio para salvar a todos.
ALAN K. PARRISH: Alguém podia perguntar o porquê? Por que Ele estava mais preocupado com o tratar dos outros, a compreensão e o amor para com as mulheres, do que para com os doze? A minha conclusão é que tanto na nossa lei e costumes como na de Israel antiga, a responsabilidade do homem pelo lar – neste caso Sua mãe e outros entes queridos próximos e estimados – parece ser dominante. As mulheres foram então instruídas para irem ao encontro de Pedro e de outros irmãos para contar-lhes o que havia acontecido. Assim, eles visitaram a sepultura e testemunharam que o corpo de Jesus havia desaparecido.
VIRGINIA PEARCE: No episódio da ressurreição, o Salvador apresentou-se para algumas mulheres como Marta, Maria e, finalmente – quando próximo à sepultura – apareceu em primeiro lugar à Maria como ser ressurreto e pediu-lhe para transmitir a mensagem de sua volta à vida aos apóstolos. Mas eu não sei […] se é possível para os homens compreenderem o que esse tratamento representa para as mulheres, o tipo de dignidade sem complacência que Ele dava e dá a cada uma de nós.
JUAN HENDERSON: Os apóstolos haviam se reunido em Jerusalém e, naquela época, muitas coisas já haviam acontecido. Pedro havia negado Cristo e Jesus havia sido crucificado. Todos eles haviam congregado num mesmo lugar.
RICHARD ANDERSON: Num cenário como esse, os apóstolos ainda estavam juntos, aconselhando-se, tentando recuperar-se emocionalmente e pensando sobre o que lhes havia acontecido. Sofriam a desilusão de todos os seus sonhos e planos arruinados, porque não compreendiam completamente a profecia e como ela seria cumprida quando Jesus disse que os deixaria.
CECILIA M. PEEK: Basicamente, em quase todas as narrativas do evangelho, são as mulheres que primeiro descobriram o sepulcro vazio e, também, em primeiro lugar, encontraram o Jesus ressurreto.
JUAN HENDERSON: Maria e as outras mulheres haviam ido até o sepulcro e o encontraram vazio.
ALAN K. PARRISH: E na sua visita, sentiram, a princípio, desapontamento, pois não encontraram o corpo de Jesus. Mas encontraram anjos lá, e esses anjos lhes asseguraram que tudo ficaria bem. Deve ter sido uma experiência extraordinária, um momento belíssimo! Então, elas receberam instrução para saírem e contarem aos irmãos o que acontecera.
MICHAEL RHODES: Elas encontraram os discípulos, contaram-lhes tudo, e os apóstolos simplesmente o acharam inacreditável. Eles riram delas.
CLYDE WILLIAMS: Aquilo nunca acontecera antes. Eles ainda tentavam se desprender das antigas noções de um messias milenar que viria de forma triunfal, e ainda estavam tentando assimilar o conceito da ressurreição.
MICHAEL RHODES: Mas ao menos Pedro e João dirigiram-se ao sepulcro. Mas João era mais rápido que Pedro, que, por ser mais velho, não havia conseguido acompanhá-lo. João, ao reconhecer que Pedro era o apóstolo mais velho, esperou por ele ao chegar ao sepulcro. Pedro o alcançou, sem ar, como podem imaginar. Ele olhou para o sepulcro e, enquanto olhava boquiaberto, percebeu certos detalhes, como os lençóis que cobriram Jesus que estavam cuidadosamente dobrados no local onde o corpo estivera deitado.
JUAN HENDERSON: Acho que, com certeza, foi naquele momento eles passaram a acreditar nas palavras de Jesus, pois tudo começara a se elucidar.
CECILIA M. PEEK: Outro exemplo desse tipo de belo detalhe é a história dos discípulos enquanto estavam na estrada de Emaús que, enquanto viajavam, relembravam-se dos recentes eventos e entristeciam-se por tudo o que acontecera. Então, o próprio Jesus apareceu a eles, apesar de eles não o reconhecerem inicialmente.
CLYDE WILLIAMS: Podemos aprender algo sobre seres ressurretos com isso. Um ser ressurreto não tem de aparecer sempre num estado de glória. Pode aparecer como [–] neste caso, eu não acredito que os apóstolos não o reconheceram porque Ele usava algo um tipo de manto ou capuz. Jesus conversou e discutiu com eles, e eles ficaram surpresos quando perceberam que Ele não sabia do que havia passado, então Jesus fazia aquilo deliberadamente.
CECILIA M. PEEK: Eventualmente, após conversar com eles, Jesus disse que iria embora. Eles então o convidam para entrar e, assim, continuaram a conversar. Eles pareciam bastante surpresos, e perguntaram-lhe onde estivera e a razão de não saber dos acontecimentos recentes. De fato, Ele era o mais importante participante do que se passara recentemente, e ele sabia muito bem do que estavam falando. Assim, gradualmente, Jesus os ajudou a compreender perfeitamente o que havia acontecido.
CLYDE WILLIAMS: Eles se intrigaram com aquela discussão e com o Seu conhecimento das escrituras. Então, com certeza, quando Ele tomou do pão, partiu-o, abençoou-o e lhos deu, eles identificaram quem era aquele homem – reconheceram-no como o Salvador e, assim, Ele desapareceu do meio deles. E questionaram-se, dizendo: “Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as escrituras?” Eles sentiram algo. Não foi somente o que viram e sim o que sentiram o que realmente os tocou e testemunhou a eles. Às vezes, acreditamos que é preciso ver para crer. Eles sentiram algo, e souberam até mesmo mais pelo que sentiram. Isso é importante para nós. Tendemos, às vezes, a rejeitar os sussurros do Espírito. Eles não fizeram isso, o que é importante.
JOHN S. TANNER: Pedro disse posteriormente que: “Não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade” (II Pedro 1:16). Provavelmente, ele referia-se à transfiguração nesse trecho. Mas eles foram testemunhas oculares, óbvias testemunhas. E uma das coisas da qual se tornaram testemunhas – e era muito importante que o fossem – foi da fisicalidade da ressurreição.
CLYDE WILLIAMS: Quando o Salvador apareceu aos discípulos, a reação deles, a princípio, foi de temor. Eles ficaram apavorados, pois pensaram que viam um espírito. Evidentemente, eles ainda não haviam compreendido bem a noção de um ser ressurreto. Não os culpamos, porque isso nunca havia acontecido antes. Mas a fim de ajudá-los a acalmar seus temores, Lucas narrou algo bastante significativo: o pedido de Jesus para que se aproximassem e tocassem Suas mãos e pés.
JUAN HENDERSON: Jesus queria assegurar-lhes que era o mesmo Cristo que estivera com eles por três anos e meio, durante Seu ministério terreno, que era um corpo ressurreto, um Salvador ressurreto.
CECILIA M. PEEK: E para ressaltar mais ainda a realidade física de Seu estado ressurreto, Ele até mesmo comeu diante deles, a fim de demonstrar que ainda possuía um corpo. E Cristo disse bem explicitamente: “Um espírito não tem carne e ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24:39).
MICHAEL RHODES: Esses dez apóstolos – Tomé não fazia parte do grupo – podiam literalmente dizer: “Eu sei que Jesus Cristo voltou à vida. Eu o toquei, o vi e eu o vi comer”. Assim uma semana mais tarde, os apóstolos estavam novamente congregados, e dessa vez Tomé estava entre eles. Tomé havia dito que: “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei”. Cristo então apareceu e disse: “Vamos, avante, por favor, Tomé!” (ver João 20:25–27).