Quem é este vulto da antiguidade que se encontra na encruzilhada da história? Ele é um grande mestre? Um revolucionário? Um profeta? Ou ele é, de fato, o filho divino de um pai divino? O salvador literal do mundo? Ao tentar responder a essas perguntas, vários estudiosos descartam a parte divina e a separam do Jesus da história – o mortal – do Jesus da fé, o Filho de Deus. Atualmente, os estudiosos Santos dos Últimos Dias tentam combinar história e fé, erudição e revelação moderna a fim de obter uma compreensão mais completa sobre quem Jesus foi e quem é.
Após o batismo de Jesus no Rio Jordão, os evangelistas relatam o poder e a autoridade divina que Ele manifestara no início de seu ministério. A reprovação do tentador no deserto, a purificação do templo em Jerusalém e o chamar dos doze apóstolos para se unirem ao seu ministério, são evidências que Jesus reconhecera e aceitara o seu chamado como o Messias há muito prometido.
JOHN S. TANNER: Quando menino, Jesus disse aos pais: “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” Lucas registra que: “… eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.” Parece que os pais de Jesus não compreenderam completamente a referência que Ele fizera ao Seu ministério mortal.
A questão mais importante e profunda é: quão consciente era Jesus de sua missão messiânica e da sua natureza divina? Estudiosos há muito discutem sobre essa questão: se Jesus se proclamou o Messias ou se a sua divindade lhe foi atribuída por seus seguidores posteriores. Na verdade, essa questão abala a própria raiz do cristianismo.
THOMAS A. WAYMENT: Nos dias de hoje, um dos debates mais acalorados entre acadêmicos é a questão da possibilidade de Jesus ter acreditado ser o Messias, ou o Salvador do mundo, ou se outras pessoas o fizeram assim parecer após Sua morte. E para compreender o problema, e para compreender a razão de haver até mesmo um debate – pois quando lemos o Novo Testamento, é óbvio que Ele ensinou essas coisas. Vemos João e Jesus proclamarem esse ensinamento. E, anteriormente, a esse debate há um documento, um documento hipotético, denominado “Q”. E o “Q” significa é que acadêmicos perceberam que há semelhanças entre preferências verbais entre os três primeiros evangelistas: Mateus, Marcos e Lucas. E o que fizeram foi tomar dos três evangelhos e tentar identificar quem foi o primeiro, o segundo e o terceiro. E assim podemos determinar quem copiou de quem.
O que podemos perceber é que Marcos provavelmente é, com quase toda certeza, a fonte primária. E uma vez que extraímos todo o conteúdo de Marcos, percebemos que Mateus e Lucas ficam lado a lado. Identificamos 65 passagens que são literais entre esses dois evangelhos. Mas parece que tais autores lançaram mão da mesma fonte que é designada Q por acadêmicos, pois provém da palavra alemã quelle que significa fonte. Então, acreditamos que esse documento é o mais antigo documento cristão.
Ao usar esse documento hoje em dia, e ao fazer essas suposições, tudo o que não estiver em Q é secundário – secundário a Jesus e ao cristianismo. E então realizamos julgamentos de valores. Jesus no Q não disse que era o Messias e outras coisas desse tipo. Mas são apenas suposições. E quando finalmente reunimos todas elas, chegamos a conclusões bastante dramáticas, como, por exemplo, que Jesus não acreditava ser o Messias.
GAYE STRATHEARN: E lá realmente se desenvolveu esse tipo de mudança entre a hermenêutica da fé para a hermenêutica da dúvida. Ao usar o termo “hermenêutica”, quero dizer “interpretação”. E essa hermenêutica da dúvida significa que devia haver um distanciamento entre a igreja e a ciência. [UHM] Tomás de Aquino costumava dizer que era precisa razão para compreender as escrituras, mas ele entendia razão como a compreensão da mente e a vontade de Deus, mas ele não chegou a essa conclusão na época do iluminismo, não. A razão humana é a razão humana, não precisamos de nada mais para nos auxiliar. Então seja o que for que não consigamos explicar pela razão humana, são coisas que devemos deixar de lado, não podemos discuti-las. David Strauss dizia: “Milagres não acontecem, pois não podemos comprovar sua existência através da razão humana.
Portanto as suposições que são trazidas a obra são como preconceitos aos resultados que obtemos dela. E, certamente, todos nós fazemos suposições. Não há ninguém que leia um texto sem fazer suas próprias suposições. A suposição do conhecimento bíblico é que Deus não existe, não faz parte da experiência do mundo e, portanto, no Novo Testamento, quando vêem uma combinação de céu e terra, concluem que deve ser um relato histórico. Assim, a sua leitura é bem diferente da nossa.
THOMAS A. WAYMENT: Uma das dificuldades que os crentes enfrentam, e os estudiosos também, é de compreender que estão estudando sobre um povo de fé, todavia, os próprios acadêmicos não conseguem ter fé. Portanto, há uma forma de antagonismo aí. Como é que uma pessoa que não possui fé pode compreender uma que tem, e como um homem de fé pode compreender um homem que não a possui?
Mas, o ponto principal é que essas suposições determinam aquilo que encontramos. Se um acredita em milagres, não o considerará como algo secundário. Ou, se um acreditar que Jesus foi o Messias, quando Ele o disse, pode ter sido verdadeiro, realmente pode ter sido Jesus. Em contrapartida, se um acredita que Jesus não foi o Messias, mas um ser humano qualquer, e que os seus milagres eram nada além de mitos, então esse verá as coisas sob esse ponto de vista, e terá de descobrir uma maneira de extraí-las da história e alcançar o verdadeiro Jesus, o Jesus erudito.
JEFFREY R. CHADWICK: Quando João Batista completou trinta anos de idade, ele iniciou o seu ministério como profeta de Deus. A reação do público a ele foi imediatamente [UHM] emocionante e cheia de expectativa. O povo judeu não via um profeta de Deus há muitas gerações, mas prontamente reconheceram-no como um.
CAMILLE FRONK OLSON: O povo ouviu João e saiu das cidades para vê-lo. Logo lemos sobre multidões. Até mesmo os publicanos e alguns soldados disseram: “Mestre, que devemos fazer?” O clamor é realmente bem dramático e até mesmo no versículo 15 de Lucas lemos: “e o povo estava em expectação” – a idéia é que há a expectativa de algo. E o resto desse versículo dá uma indicação do que isso seja: “E pensando todos em seus corações, se porventura seria o Cristo.” (Lucas 3:15). Aquele seria o Messias que há muito era esperado? Essa expectativa estava presente. De várias maneiras, na mente daquelas pessoas, João tinha o perfil do Salvador, e eles vinham em massa das cidades para ouvi-lo, desejando mudanças.
JEFFREY R. CHADWICK: Em João 1, no capítulo 24 em especial, há muitos que tinham sido enviados dos fariseus entre o povo, dizendo-lhe: “Quem és tu e qual é tua missão aqui?” Os fariseus, como o populacho judeu, honrou João como um profeta e ambos ficaram desapontados e profundamente entristecidos por ocasião de sua execução nas mãos do rei Herodes Antipas.
Entretanto, os saduceus, aqueles sacerdotes chefes e anciãos responsáveis pelo governo e administração da Judéia e de Jerusalém, estavam, por algumas razões, descontentes com João. Em primeiro lugar, eles acreditavam que a era profética havia terminado e resistiam a novas tentativas de trazer à tona novas manifestações proféticas. Em segundo lugar, os saduceus veementemente se opuseram à idéia de que Israel teria um Messias que se tornaria rei e mudaria a ordem política. Os saduceus, sacerdotes chefes e anciãos, eram aliados de Roma e, de fato, auxiliavam-na a governar a Judéia. Enquanto o governador romano administrava os negócios da Judéia num nível geral, os saduceus, dirigidos pelo sumo sacerdote, governavam Jerusalém num nível local, e não precisavam de um novo profeta que trouxesse novas profecias sobre um Messias que estava por vir para atrapalhar a administração em vigor tanto em Jerusalém como no monte do templo. Então os líderes fariseus, incluindo pessoas como Nicodemus, que faziam parte do senado judeu, o Sanhedrin de 71 membros. Provavelmente estavam bastante entusiasmados com a aparição de João. Os saduceus se opuseram muito fortemente tanto a João como eventualmente o fariam a Jesus.
GAYE STRATHEARN: Após a ida de Jesus ao templo, aos doze anos, o único registro que temos de sua vida se encontra em Lucas, e nos diz que Ele retornou a Nazaré e se manteve sujeito aos seus pais terrenos. Não sabemos nada nem sobre a adolescência de Jesus nem de sua vida entre os vinte e trinta anos. Na verdade, foi somente no 15º ano do reinado de Tibérius César, quando Jesus tinha aproximadamente 30 anos de idade, que Ele foi colocado em cena, como narrado em todos os evangelhos. Em todas as narrativas, Jesus foi ao rio Jordão procurar João Batista.
CAMILLE FRONK OLSON: O primeiro encontro efetivo entre João e Jesus, registrado nas escrituras, foi no batismo de Jesus, quando foi até o Jordão, em Betânia, o local de intercessão, para se encontrar com João para ser batizado.
GAYE STRATHEARN: Agora, quando Jesus se aproximou de João, João disse: “Eu não sou digno de batizá-lo.” Mas Jesus disse: “Deixa, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.” [Mateus 3:15]. Jesus reconheceu que ele não precisava do batismo de João para arrependimento. No entanto, Ele foi batizado para cumprir toda a justiça.
A Bíblia realmente não nos explica o significado da expressão: “cumprir toda a justiça”. No entanto, no Livro de Mórmon, há uma passagem bem interessante que se encaixa à Bíblia, dando-nos a explicação que precisamos. Se lermos 2 Néfi, capítulo 31, , Néfi, após ter recebido uma visão sobre o batismo de Cristo, ponderou sobre aquele dia. Ele meditou bastante sobre o significado da expressão “cumprir toda a justiça” e chegou à conclusão que foi para mostrar aos filhos dos homens que Jesus deveria ser humilde ao Pai e que devia ser obediente. E, então, Cristo estava disposto a ser batizado e João Batista reconheceu que Ele não precisava do batismo, mas o faria para nos dar o exemplo e obedecer ao Pai.
JEFFREY R. CHADWICK: Apesar de Jesus não precisar da remissão de pecados, ainda assim requeria a realização da ordenança que O prepararia para cumprir Sua missão como adulto, e foi necessário que Jesus a recebesse de João Batista. E então João acatou o comando de Jesus e o imergiu nas águas do rio Jordão.
CAMILLE FRONK OLSON: Após ser batizado, Jesus sai das águas, os céus se abrem e Ele vê o espírito de Deus descer sobre ele em forma de uma pomba. “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mateus 3:16–17).
Aqui acontece algo diferente que parece ser a presença de uma testemunha confirmadora. Aquela vez, o sinal de uma pomba e a manifestação do Espírito Santo deram um testemunho mais profundo a João de que ele havia batizado um homem extraordinário, e que verdadeiramente aquele era o filho de Deus. Sem dúvida alguma, João sabia quem Jesus era exatamente. Ele soube através do testemunho do Espírito. Este é o Filho de Deus. João Batista está cumprindo parte de seu papel como precursor, um Elias. Ele e somente ele fora ordenado para batizar o filho de Deus. Ele sabia que era seu dever batizá-lo e o fez.
ANDREW SKINNER: Não muito longe daqui, Jesus foi batizado. Sobre o meu ombro direito fica a antiga cidade de Jericó e, além dela, o rio Jordão onde acreditamos que Jesus foi batizado. O batismo de Jesus foi um exemplo extraordinário de obediência ao mandamento e a vontade de Seu Pai. Acho justo dizer que para a maioria das pessoas, o batismo de Jesus marca o início de Seu ministério mortal. E também acho que uma pessoa esperaria que, após tal demonstração de poder e autoridade durante o batismo, Jesus imediatamente se encaminharia a Jerusalém e iniciaria a ensinar e a exortar no cume da montanha e também no templo onde Ele ensinou com frequência. Mas, de fato, não foi esse o caso. Muitas pessoas acreditam que Jesus veio para um local próximo à antiga cidade de Jericó, perto daqui. Este deserto, região estéril, torna-se um lugar de jejum e oração para o Salvador. E, ao final de 40 dias, ele também se torna um lugar de tentação.
S. KENT BROWN: Para compreender o deserto judeu, é preciso ter uma idéia da topografia desta região. Inicialmente, começamos aqui com Jerusalém. Ao oeste do Monte das Oliveiras há uma estrada que circunda a parte sul desse monte e do Mar Morto, denominado o Caminho do Sal. Há outra estrada que aparece no topo do Monte das Oliveiras, vindo do Vale do Cedro, pela encosta ao leste até Jericó. Entre essas duas estradas, assim como para o norte e o sul, fica o deserto da Judéia. Não há nada de plano na topografia. Só se vê colinas que se desgastaram ao longo dos milênios pela chuva, o vento e etc.
ROGER R. KELLER: Jesus realizou o seu jejum sim no deserto por quarenta dias. Ele parece ter sido sustentado pelo Espírito durante aquele tempo. E é ao final daquele período que Satanás se aproxima Dele e o desafia e o tenta. Na verdade, a palavra tentação também pode provavelmente ser traduzida para “desafio.” E então o Salvador teve de passar por verdadeiros desafios. Não há dúvida que houve tentações, mas definitivamente esse foi o desafio que Jesus teve de passar antes de Seu ministério, e foi uma experiência que Ele nunca abandonou enquanto se empenhava para cumprir o que Seu Pai Celestial o chamara para ser e para fazer.